Despedida

quarta-feira, 30 de junho de 2010


- Oi, querido...
- Oi.
- É hoje...
- É.
- Está com medo?
- Não.
- Eu não queria que fosse assim...
- Nem eu.
- Mas... Acho que não tem jeito mesmo, não é?
- É. Não tem.
- Posso segurar a sua mão?
- Pode.
- Está sentindo isso?
- Não.
- Você... tá frio.
- Eu sei.
- Por que não fica comigo?
- Não posso.
- Então, me deixe ir com você...
- Não dá.
- Prometo que não vou me esquecer de nada...
- Obrigado.
- Eu que... te agradeço.
- Não chore.
- Desculpe.


- Perdão, senhora, temos que fechar agora.
- Me dê mais um minuto, moço, por favor...
- Tudo bem.


- Querido, chegou a hora... Precisam te levar.
- Tá.
- Eu vou fechar agora...
- Pode fechar.
- Sentirei muita saudade...
- Acredito.
- Vou te amar pra sempre...
- Eu também.
- Adeus, meu amor...


- Moço...
- Ele está pronto?
- Sim.
- Certo. Então, vamos enterrar.


Reencontro

sábado, 12 de junho de 2010

- Oi, Marla!
- Oi...
- Quanto tempo! Como vai, querida?
- Eu? Bem...
- E a família, como está?
- Ótima...
- Legal. Os meninos perguntam sempre por você. Quando é que aparece lá em casa?
- Ah, não sei. Qualquer dia desses, talvez...
- Apareça mesmo.
- Tá, tá bom, eu apareço.
- Meu pai vai adorar saber que eu te encontrei.
- É mesmo? Manda um abraço pra ele, então.
- Mando sim.
- Então, tá.
- Poxa, lá vem o meu ônibus.
- Sério? Que pena...
- Vou indo. Beijo, querida. Me liga!
- Tá, eu ligo.
- Tchau!
- Tchau.


- Vem cá, desde quando o seu nome é Marla?
- Desde nunca, mas, sei lá, ela falou com tanta empolgação...
- Eu, hein?! É cada doido que aparece...
- Ô... 


Quem é você: Abraão ou Tomé?

quinta-feira, 10 de junho de 2010

A ciência diz que a fé pode curar e que isso nada tem a ver com espiritualidade. Sabemos que até mesmo uma mentira quando demasiadamente levada à sério, termina se assemelhando à verdade. Cientificamente, se um indivíduo acredita que pode ficar são, seu cérebro envia mensagens ao seu corpo, que produz as condições necessárias para a ocorrência da cura.

Outro fato interessante é o Efeito Placebo, que ocorre quando o paciente é tratado por um medicamento inerte e termina obtendo melhoras e até mesmo a cura. Ele acredita que o remédio “falso” pode ajudá-lo e isso termina ocorrendo. Chamarei esse resultado fantástico de fé natural ou pensamento positivo, através do qual o organismo reage com êxito.

Agora, suspendo uma questão sobre a crença espiritual. A ciência pede prova para os milagres através da fé, e, muitas vezes, não aceita a própria fé como resposta. Então, pergunto: o que acha disso? É certo julgarmos de maneira ferrenha à fé? E, se você crê de algum modo ou em algo, com quem se parece: Abraão ou Tomé?

Tomé, diz a Bíblia, creu porque viu. Não será medíocre essa fé, que crê apenas naquilo em que se pode apalpar?


Definição de Fé (dicionário Aurélio)

"s.f. Fidelidade em honrar seus compromissos, lealdade, garantia: a fé dos tratados. / Confiança em alguém ou em alguma coisa: testemunha digna de fé; ter fé no futuro. / Crença nos dogmas de uma religião; esta mesma religião: ter fé; a propagação da fé. / Crença fervorosa: fé patriótica. / Afirmação, comprovação: em fé do que lhe digo..."


Fidelidade em honrar seus compromissos, ter fé no futuro, afirmação, comprovação... Acaso ter fé em Deus não seria acreditar que Ele honraria com sua palavra? Quando sabemos que o dito por tal pessoa será honrado, precisamos ver o concreto antes de acreditar? Assim já não seria mais fé, seria penhor.


Penhor (dicionário Aurélio)

"s.m. Contrato em virtude do qual um credor recebe, como garantia da dívida, um objeto mobiliário. / O próprio objeto que é dado como garantia. / Fig. Garantia, segurança. // Casa de penhor, estabelecimento onde se empresta dinheiro, mediante depósito de jóias e outros objetos; prego."


Essa é a fé de Tomé, aquela que precisa de caução, da prova antes do evento, o que é contrário ao verdadeiro significado da fé.

Pensemos em Abraão. A Bíblia conta que ele creu contra a esperança. Sendo um idoso de mais de cem anos, casado com Sara, de noventa, creu na promessa de que seria pai de muitas nações. Abraão não precisou de penhor, a certeza da promessa recebida foi a sua fiança, a sua própria caução. E ele recebeu conforme acreditou.


Significado de Fé (Bíblia - Hebreus 11:1)

“Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que não se veem.”


Seja pelo que a ciência comprova, a fé natural, com a qual o cérebro colabora para a concretização daquilo em que se acredita, seja pela fé espiritual, que não precisa de comprovação científica para acontecer, o poder da fé é real.

Tomé viu e creu, Abraão creu e viu. Tomé foi um dos discípulos de Jesus e é lembrado pela sua fé deficiente. Abraão é conhecido pelo mundo como sendo pai da fé e de muitas nações.

E aí, com quem você quer se parecer: Tomé ou Abraão?


Matutinos, Vespertinos ou "Normais"?

terça-feira, 8 de junho de 2010

É o que me pergunto todos os dias. Por que é tão doloroso ser diferente? Por que não podemos ser aceitos como realmente somos?

Durante anos, venho tentando camuflar a minha realidade, me moldar aos padrões considerados normais pela sociedade. Dizem que a ordem natural é o sono acompanhar a noite, mas o que fazer quando acontece diferente?

Alguns poucos sorteados pela genética subvertem a ordem biológica que regula o ser humano e se descobrem mais acesos para o trabalho quando a maioria já está fora do combate, à noite. Somos chamados de vespertinos e juntos somamos cerca de 10% da população. Os matutinos, que dormem e acordam muito cedo, somam outros 10%.

É bom que não se confunda o ser vespertino com o ser portador de distúrbios do sono. A insônia é caracterizada pelo incômodo do indivíduo que tem dificuldades para dormir; esse não é o caso dos vespertinos, pois conseguem conciliar as obrigações e o ritmo próprio.

Embora as pesquisas mostrem que os resultados para a saúde podem ser desastrosos - o sono diurno não consegue cumprir todas as fases, o que poderia gerar prejuízos à memória, à atenção, ao estômago e ao sistema cardiovascular, além de prejudicar as relações interpessoais e aumentar o risco de acidente -, ainda não se pode afirmar que tais riscos realmente afligirão os vespertinos. É sabido também que os efeitos dos trabalhos noturnos se apresentam geralmente naqueles que o fazem por obrigação, não por predisposição.

Se você apresenta esse discurso: “Que faço para mudar? Já tentei de tudo. Arranjei um emprego diurno e isso não me ajudou muito. Eu trabalhava o dia inteiro feito um zumbi e, à noite, mal conseguia pegar no sono.” - parabéns, acaba de descobrir que é um vespertino. 

Termino esse depoimento com uma frase que para alguns é um incentivo, e, para outros, uma piada: "os serviços 24h aumentam a cada dia".

A Praia

quarta-feira, 2 de junho de 2010
          A Praia

          
Aquele lugar era muito bonito, uma praia linda, a areia clarinha, as águas azuis do mar e a pura natureza. Uma moça passeava por ali todos os dias, andava de uma ponta à outra. Ela catava conchas e pedrinhas.

Era curioso, uma garota tão jovem e sozinha... Está certo, o lugar era um paraíso desértico. Mas o que a faria repetir sempre aquele mesmo trajeto?

Vi por um momento... O sol escondeu-se, alguns raios ultrapassaram as densas nuvens e iluminaram as águas, que brilhavam, e a moça não notara, não parara. Ela só caminhava, caminhava todos os dias, sozinha.

Qualquer um ficaria intrigado, um cenário tão perfeito e a garota tão jovem... Estava lá, pontualmente, nunca falhava; era somente ela e a praia.

Por que caminhava?

Por que sozinha?

 Dez anos se passaram.

Olho e a vejo, todos os dias...

Ela ainda passeia, pisa na mesma areia, cata as mesmas conchas e pedrinhas, não muda, sempre sozinha.